sexta-feira, 17 de junho de 2011

Traje de Gala

Estou vestindo um traje de gala, deitada sobre a maciez da seda, e homenageada por flores e lágrimas. Eu morri. Minha fria pele, tão sem viva, tão sem alma, estirada sobre o caixão, está necrosando e decompondo-se aos pouco. Tão natural, tão repugnante. A morte é repugnante. A vida é repugnante.
Penso que talvez o que me faça sair desse desatino é a morte. Mas penso que talvez o que me faça sentir essa sensação é a vida. Mas o que querer? Me desenrolar, ou me confundir?  E enquanto eu estou deitada nessa caixa de madeira e seda, meu corpo vai se desfazendo.
Luzes ao fim do túnel? Um arcanjo toca. Estou no céu? Ou estou no inferno? Aonde seria o purgatório? Quero minha redenção, quero minha paz eterna, quero que por um momento meu coração fiquei sereno, e tudo que nele está se realize, se inicie. Mas tudo que consigo extrair dele são lágrimas que marcam meu rosto, e rolam e rolam até finalizarem seu percurso morrendo em meu decote.
Tudo morre. Todos morrem. Minhas lágrimas morreram, assim como minha respiração, meus batimentos, minha vibração, minha vida. Mas porque sentimentos não morrem? Quero que morra. Morra! Todo meu amor, por favor, morra. Me liberte, me deixe, me sossegue. Me deixa sentir como é ser uma pedra. Sem sentimentos, sem ideais, sem ideias.
Fria, repugnante, insensível, morta. É assim que eu vivo. Vivo uma morte serena, aonde eu aprendo a cada dia que passa que minha morte vital vai chegando. Aonde aprendo que a cada suspiro seu que eu sinto, imagino; ou a cada soluço que você chora e desfia em um mar de lágrimas, me faz sentir bem. Me trás um fio de esperança. Um fio de amor. Um fio de vida.

Um fio de vida, em um traje de gala de morte.

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