domingo, 31 de outubro de 2010

Verbo Intransitivo

Me pego olhando fixamente para a tela do computador. Rios uniformes de lagrimas escorrem, sem saírem de seu curso, em minha face. Estou chorando. Não, eu não posso chorar. Não aqui. Não agora.
Dizer que a vida é difícil é pouco. Nossa, cada um sabe o fardo que carrega. E meu fardo simplesmente se torna cada dia mais pesado, mais denso, e preso a mim. Não posso me livrar disso. Não ainda. Não agora.
Saber que meu coração está mais despedaçado que mil pedaços, que está amargurado, revoltado, suicida. Isso me machuca mais ainda. Uma dor prazerosa, que me faz sentir humana, ao mesmo tempo em que me faz sentir uma marionete nas mãos das pessoas. Me faz sentir viva, ao mesmo tempo em que me faz sentir morta. Me faz sentir ao mesmo tempo em que não me faz sentir. Não quero me tornar uma pedra de gelo. Não por isso. Não agora.
E meu peito aperta, tampando minha respiração. Quero respirar, quero sentir o ar em meus pulmões. Quero poder voar noite afora, sob o céu estrelado. E a lua – ah, ah lua – brilhando e pintando, todo o céu com sua luz prateada. Dando um ar misterioso, amoroso, confiante, confidente. Não vejo nada melhor do que a calada noite. Não ficando aqui. Não agora.
E escuto vozes ecoando dentro da minha mente. Vozes ruins, vozes boas. Vozes que querem minha vida, minha morte, minha redenção. Tudo se misturando, e o som do meu coração fazendo Tum-tum-tum. Queria poder sumir com todo esse barulho de dentro de mim, e mergulhar no mais profundo silêncio. O silêncio. Meu melhor amigo. Me escuta, me entende. Me deixa chorar ao seu ombro sem reclamar de nada. Me conforta, me acalma, me aconchega. Não quero sair desse silêncio. Não nessa noite. Não agora.
Preciso de uma palavra amiga. Preciso de um abraço. Olho pro lado e vejo apenas pessoas desconfiguradas, pessoas sem face, sem sentimentos, que tentam sugar toda minha energia. Todo meu sentimentalismo. Porque tudo está indo tão fácil? Porque tudo se destrói tão fácil? Apenas uma palavra. Uma palavra e tudo dentro de mim desaba. Ódio. Rejeição. Insignificância. Todos meus sentimentos sendo substituído pela dor. Dor de saber que isso pode não ter volta. Preciso de alguém pra me levantar. Mas não tem ninguém. Não para mim. Não agora.
Então espero você voltar. Mas você quem? Não tem ninguém.Apenas meus sonhos e ilusões me rodeiam. Tento me atar a eles, mas simplesmente então distantes, estão livres, intocáveis. Me aproximo o máximo que eu consigo, e enfim caio. Num poço sem fim, sem luz, sem qualquer tipo de esperança. Então, me lembro de uma palavra. Que tinha perdido se faz tempo em meus pensamentos. Que tinha sido trancada, como a esperança foi, na caixa de Pandora. Amor. Mas por que o amor? Amar, verbo intransitivo, já dizia o ilustre Mário de Andrade. Ame sem esperar que alguém a ame de volta. Ame. Apenas ame. Foi quando percebi que havia sim fim. Havia algo agora.
Me pego olhando novamente para tela do computador, e vomitando palavras e palavras. O rio secou. Meu rosto marcado pela sua correnteza, e o lápis preto borrado envolta de meus olhos. Mas estou sorrindo. Uma janela de msn pisca. Olha, é o meu verbo intransitivo me chamando. É o meu amor. 

~momento insano de uma garota insana~

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